A mata enchia no Inverno chuvoso, a Mata da Mira ficava um lago espelhado e eu, menina, entretinha-me a olhar as nuvens que passavam no chão espelhado e entremeado de copas de árvores. Horas sem fim.
Agora, diz a Celestina, há pouca água na mata, apesar da muita chuva que tem caído. Os algares não enchem, desviadas que foram as águas para o rio Almonda. E as vinhas já lá não existem. Lembro-me de acompanhar o avô quando as ia sulfatar. Levava uma caixa metálica às costas e fazia chover a mistura azulada sobre as videiras. As folhas ficavam esbranquiçadas e feias de manchas. Tinha que ser, explicava o avô, para que o míldio não as atacasse.
Trabalhos que ninguém hoje quer, de tão custosos. A agricultura da vinha era primitiva e exigente. A produção satisfazia apenas a necessidade das famílias. E as famílias partiram para vidas menos primitivas, mais fáceis.
A mata de Mira de Aire virou polje de Minde. Ali, onde termina o distrito de Leiria e começa o de Santarém, moram lembranças, mas não nostalgias.
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